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SANTA JOANA DOS MATADOUROS

SANTA JOANA DOS MATADOUROS

Nesses tempos sombrios, onde crises econômicas, políticas, sociais, esportivas, se misturam em nosso cotidiano, provocando terremotos e tsunames na vida de todos, sempre procuramos, instintivamente, analisar, compreender o que está acontecendo, empenhados em minimizar ao máximo as conseqüências desses acontecimentos.

Lemos jornais, ouvimos os noticiários, as declarações das autoridades competentes e, muitas vezes, percebemos, surpresos, que nossa posição, nossa resposta às provocações se alterou. Nós mudamos, é isso! Somos capazes de evoluir, nos transformar, isto é... mudar de idéia!

Bertolt Brecht nos ajuda, com suas obras, a entender nossas mudanças de pensamento. Esta personagem, “Santa Joana dos Matadouros” vive o florescer de uma crença baseada na fé e na ingenuidade. Sua fé a engaja num grupo religioso, cujo trabalho piedoso ela assume com personalidade. E logo entra em choque com um sistema de vida menos piedoso que visa aproveitar-se das pessoas e delas tirar o maior proveito possível, sem a menor preocupação com uma retribuição justa.

Jack Pierpoint, o personagem que se contrapõe à Joana, é alguém que acredita profundamente que seu ponto de vista é que é o correto; seu único objetivo é obter lucros nos negócios, e seu comportamento oscila entre o cinismo e a agressividade sem escrúpulos.

E o autor mostra a evolução do pensamento de Joana que traça uma curva iniciada na fé, baseada numa crença verdadeira na confraternização, e que, conforme os fatos, esbarrando com decepções, surpresas, injustiças, evolui num traçado que demonstra a mudança completa do pensamento.

Em contraposição o pensamento de JP evolui no sentido de aprofundar suas crenças e malícias. Seu cinismo ampara a crescente confiança que ele desenvolve na sua fé, inteiramente submetida ao lucro circunstancial.

A personagem mito da história da França, que serviu de modelo para a demonstração de Brecht, depois de defender ideais de liberdade em campos de batalha e realizar feitos heróicos tangida por suas idéias, é submetida à Santa Inquisição e morre numa fogueira como criminosa. Nesta peça ela morre de “pneumonia”, um novo apelido das mesmas pressões.

Todas estas explicações são superficiais se con­siderarmos que Brecht foi o mais importante autor teatral do século XX, e que suas obras, muito mais que explicações merecem encenações cuidadosas. Considero, pela minha experiência, esta encenação um espetáculo vivo, criado, em sua maioria, por atores jovens e motivados, e, por isso mesmo, polêmico e sujeito a alterações criativas. O mais significativo ensinamento da dramaturgia de Brecht, preocupação presente em todas as suas peças, é que devemos caminhar com os olhos bem abertos, não nos deixando enganar pela aparência dos fatos, mas sim, sempre questionando onde está a verdade, muitas vezes mascarada pela aparência.

Na inauguração do Teatro Denoy de Oliveira – saudoso companheiro de tantos momentos ! – encenei para a UMES outro Brecht, “Turandot”; esta nova oportunidade, agora, me ajudou a recuperar a saudade e a certeza da importância da nossa luta!

(JOSÉ RENATO)

 

A DIVISÃO CAUCULADA DE PIERPOINT

Brecht nunca chegou a levar “Santa Joana” aos palcos, apenas dirigiu uma versão reduzida em uma leitura radiofônica em 1932. No entanto, escreveu bastante sobre ela. E a peça parece mesmo ter esta sina: é uma das menos encenadas do autor, mas muito se escreve sobre ela. Sua beleza, complexidade e profundidade inspiram a crítica, mas mantêm os palcos a uma distância respeitosa.

A decisão de montar “Santa Joana”, 80 anos depois de sua criação e justo no meio de uma crise mundial de proporções – e origens – semelhantes às de 1929, demandou um estudo aprofundado não apenas da fortuna crítica da peça como também – e principalmente – dos escritos de Brecht. Uma questão nos chamou sobremaneira a atenção: Em uma pequena nota introdutória, Brecht ressalta que a peça “deve mostrar a etapa atual do desenvolvimento do homem fáustico”.

Fosse maior o espaço e mais propícia a ocasião, poderíamos traçar um paralelo não apenas entre os personagens de Goethe e Brecht (é inevitável não lembrar da tragédia de Gretchen quando da imolação de Joana), mas inclusive entre cenas inteiras, em especial a partir do Quinto Ato da Segunda Parte do poema goethiano. Deixaremos tal tarefa ao espectador, mas acreditamos encontrar na questão da “ação” uma chave de leitura possível para a afirmação de Brecht. O mote para que Fausto seja abordado por Mefistófeles é justamente a tradução que o doutor está fazendo da bíblia. Depois de muito procurar pelo termo mais justo, escreve: “Do espírito me vale a direção, / E escrevo em paz: Era no início a Ação!” Fausto era um homem dilacerado, “opresso pela livralhada”, que, em sua inação, declara: “Não julgo algo saber direito, / Que leve aos homens uma luz que seja / Edificante ou benfazeja.” Ao descobrir que no início era a ação – e não o verbo – surge-lhe o diabo na frente, que o tomará pela mão e o levará pelo mundo.

Goethe localizava no homem a fonte do bem e do mal. Mas acreditava, como a maior parte dos humanistas, na perfectibilidade do ser humano. Lembremos que todo o desenrolar do poema de Goethe aponta justamente para a superação da divisão através da ação. Ela – a divisão entre a alma que se aferra ao “mundo e à matéria” e a que busca a “plaga etérea” – é o ponto de partida de Fausto.

A obra monumental de Goethe mostra, no alvorecer do capitalismo, o homem burguês se lançando à ação. Mas, por mais genial e visionário que fosse Goethe, ele não poderia, escrevendo antes mesmo da formação do Estado Nacional na Alemanha, prever todas as conseqüências do desenvolvimento daquele que rompia com o sistema feudal e empreendia a construção de uma nova sociedade. O homem ativo de Goethe não tem consciência plena das conseqüências de seus atos. Mas também não é à toa que o poeta estabeleceu, como seu parceiro de jornada, o próprio demônio. Parece que antevia possibilidades sombrias no desenvolvimento da burguesia.

Em “Santa Joana dos Matadouros”, Jack Pierpoint e Joana também agem freneticamente. Mas se ela mantém-se presa ao ideal goethiano, pressupondo que suas pregações irão garantir a vitória do Bem existente no homem, ele age calculadamente. O resultado é o triunfo de Pierpoint no mundo capitalista e a apropriação da figura de Joana como elemento ideológico pelos causadores da miséria que ela acreditava combater.

Brecht vive um período em que a desproporção, intrínseca no sistema, entre a capacidade de produção e o nível de consumo das grandes massas já havia empurrado o capitalismo para o estágio imperialista, gerando uma guerra mundial e estando a caminho de deflagrar outra. Seu olhar sobre a trajetória do homem fáustico é retrospectivo. A produtividade sonhada por Goethe, o “trabalho produtivo em prol da humanidade” já não une espiritual e material: a apropriação privada do trabalho social transforma tudo, espírito e matéria, em mercadoria. Se no “Fausto” o personagem central decide o que será feito, mas não tem idéia de todas as conseqüências, na obra de Brecht as ações de Pierpoint são friamente calculadas.

No mundo de Pierpoint, a ação do capitalista gera necessariamente mais miséria e exploração, e deve ser mascarada.

É por isso que Pierpoint precisa simular uma alma sensível. É por isso também que, na citação mais explícita a Goethe, Brecht recua dez mil versos e coloca na boca dos vencedores os versos do Fausto que ainda não havia deixado sua condição de alquimista medieval: “Em cada homem habitam / Duas almas opostas”. Pierpoint parece chegar ao ponto de onde Fausto parte. Se Fausto nega sua divisão com a ação, Pierpoint manipula a crença nessa divisão como meio de iludir a platéia para obter lucros.

O velho poeta realmente esperava que surgisse daquele momento histórico um homem purificado. Já Brecht, que tinha a revolução por horizonte, acabou revelando-se profético quanto ao comportamento dos capitalistas: não há nada mais contemporâneo do que grandes conglomerados financeiros com “responsabilidade social”, grandes poluidores com “responsabilidade ambiental”, “amigos da escola”, “voluntários”, “mecenas” com o dinheiro alheio.

Não há na peça uma divisão maniqueísta entre operários bonzinhos e patrões malvados. Existem sujeitos concretos, condicionados por uma situação histórica, de cujas ações dependem a mudança ou a manutenção da situação. Os operários só se libertarão se descobrirem as causas de sua opressão. Os burgueses precisam manter a alienação dos operários.

Em tempo: o JP Morgan – banco fundado pelo inspirador do personagem Pierpoint – fundiu-se com o Chase, de Rockfeller, em 2000, e no auge da pior crise do capitalismo, desde 1929, aumentou significativamente sua participação no mercado financeiro, adquirindo concorrentes quebrados. Em 2008 distribuiu U$ 5,6 bilhões aos seus acionistas, pagou bônus de U$ 8,69 bilhões aos seus executivos, depois de embolsar uma ajuda bilionária do governo americano para salvar-se, e ao sistema, das conseqüências de seus atos.

(VALÉRIO BEMFICA)

Ficha Técnica

Direção: José Renato

Tradução/Adaptação: Valério Bemfica

Música Original: Luciano Carvalho

Direção Musical: Adriana Coppi

Cenografia: Cris Cortilio

Figurinos: Magê Blanques

Iluminação: Nezito Reis

Assistência de Direção: João Ribeiro

Vídeos: Bernardo Torres

Operação de Vídeo: Diógenes Araújo

Cenotécnico: Cleyton Caetano

Elenco: Alexandre Krug, Bruno Campelo, Daniela Lavorenti, Day Leal, Dhenyze Iwone, Érika Coracini, Fábio D’Arrochella, João Ribeiro, José Roberto Giusti, Pedro Monticelli, Reginaldo Faidi, Rafael Faustino, Rebeca Braia, Ricardo Nash, Rogério Nagai, Valeska Nunes, Zeca Mallembah

Músicos Atuantes: Adriana Mioni, Renato Giraldi, Rodrigo Pirituba

 

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